Há exatamente um ano, fui tomada por uma felicidade que me preencheu como jamais havia ocorrido. Foi um dia que começou bem cedo, afinal não dormi nada na noite que o antecedeu. Sabia o que estava por vir independente do resultado ser ou não o que eu almejava. E pra ser sincera, não estava preparada para nenhum dos dois.
No dia 21 de janeiro de 2011, também conhecido como "O dia mais feliz da minha vida" levantei em torno de 7h da manhã tomada por um nervosismo tamanho, maior do que qualquer coisa que eu pudesse imaginar, maior até que aquele nervosismo que sentia ao acompanhar uma cobrança de pênaltis na final de um campeonato. E eu jurava que a maior tensão que poderia sentir na vida era essa. Mas naquela sexta-feira, comprovei que estava errada.
O listão da Universidade Federal do Pará seria divulgado às 9h da manhã. Mas às 8h eu já não aguentava mais esperar, pra falar a verdade eu não conseguia nem respirar direito. Não suportando mais aquele aperto no peito desisti de esperar pela divulgação do listão na rádio e dirigi-me a reitoria da universidade juntamente com minha prima, que também havia prestado vestibular. A diferença é que ela não estava a ponto de ter um colapso nervoso.
Apesar de no dia 7 de janeiro já ter sido aprovada em Letras Língua Portuguesa na Universidade Estadual do Pará, e de ter comemorado bastante já que aquela era a minha primeira aprovação no vestibular, eu sentia que me faltava algo, que só a felicidade da minha aprovação não era o bastante, e mesmo com todo o orgulho que exalava de todos os meus familiares e amigos que comemoraram junto a mim, aquilo não era o suficiente. Eu buscava, queria, precisava de algo mais.
Enquanto me dirigia ao campus da universidade, fui tomada por inúmeros pensamentos. Me questionava se eu realmente merecia aquilo, se tinha feito por merecer aquela aprovação. Se as médias que havia obtido nas provas de seleção iam ser o suficiente.
Para quem olha de fora, o vestibular parece apenas um prova que te levará ao ensino superior, mas não é bem assim. Não são apenas notas, são vidas, são sonhos que estão em jogo. E naquele dia, os meus sonhos, a minha vida estava em jogo.
Caminhava em direção a reitoria e não tinha sequer noção do que estava fazendo, muito menos do que se passava ao meu redor, a única coisa que eu desejava era que aquele aperto no peito acabasse.
O meu nervosismo aumentou 82377374% ao ver a divulgação sendo feita ridiculamente por meio de um “pisão”. Os responsáveis pela divulgação dos aprovados deram UM envelope com os listões nas mãos de desconhecidos que estavam ao lado de fora da reitoria e eles foram tirando as listas e repassando-as. Naquele momento desesperei-me, sentei na calçada e comecei a chorar loucamente enquanto minha prima tentava conseguir ver o resultado dela e posteriormente o meu.
Enquanto ouvia alguns comemorando, e outros lamentando, eu continuava sentada e aquele aperto no peito aumentava a cada segundo. De repente minha prima chega até mim e me diz que ela não havia passado. Esqueci de mim e comecei a lamentar por ela, já que era a terceira vez que ela não conseguia sua aprovação. Naquele instante me senti tão egoísta por estar desesperada por uma segunda aprovação enquanto que ela não tinha mais chances de ser aprovada naquele ano.
Após um tempo, ela se acalmou e então foi em busca do meu resultado, enquanto eu, a ponto de desmaiar, continuava sentada na calçada a chorar. Tinha quase certeza que não conseguiria ser aprovada, estava só tentando me conformar com o resultado que me seria em poucos minutos.
Muitas pessoas que estavam ao lado de fora da reitoria buscavam desesperadamente pelo listão do seu curso, alguns tão eufóricos que acabavam rasgando alguns listões. Quando eu via aquela cena, ficava pensando que naquele papel poderia estar a lista do meu curso, e me desesperava mais ainda.
Finalmente, graças a Deus - senão eu ia me jogar no rio e morrer afogada pra acabar de vez com aquele desespero - minha prima chega a mim e diz “Tu passaste!”. Lembro-me como se fosse há 2 segundos. Não tive forças para gritar, muito menos esboçar alguma reação, apenas abracei-a e pus-me a chorar. Em seguida, ainda duvidando dela, fui atrás do bendito papel e vi meu nome lindo lá na lista de aprovados.
Nunca conseguirei relatar o que senti naquele momento. Foi um misto de “Porra eu consegui!” com “Caralho, é verdade mesmo?”. Só sei que foi a melhor sensação que já havia sentido. Era impossível acreditar que algo que eu havia começado a sonhar em 2007 tivesse se concretizado. Aquela foi a minha maior conquista, talvez por ter sido a MINHA conquista. Algo que consegui com meu esforço.
Saber que todos os sacrifícios ao longo do ano valeram a pena, e pensar que meu sonho havia se realizado, eram coisas que não cabiam em mim, e talvez por isso essa felicidade transbordou através de lágrimas.
Talvez nem mesmo eu conseguisse deduzir o que aquela conquista significava em minha vida, mas ela se traduziu em uma frase proferida por minha mãe no primeiro abraço que ela me deu como caloura de Comunicação Social. Ela, aos prantos, olhou-me com os olhos pintados de orgulho e disse-me “Agora tu vais fazer o que tu queres”. Naquele momento eu tive um pouco de noção de tudo que estava sentindo.
É, aquela sexta-feira foi única. A quebra de ovos, os banhos com refrigerante, dançar carimbó na chuva, os abraços daqueles que estavam felizes com a minha conquista, nada disso tem preço.
Pensava que fazer o que eu queria, ou seja, exercer jornalismo seria o que de mais importante poderia ocorrer em minha vida. É, eu estava completamente enganada. Sem dúvidas o dia 21 de janeiro de 2011 foi um dia incrível, mas a felicidade desse dia se fragmentou nesse um ano, e se fragmentará a cada dia dos três anos de curso que ainda estão por vir. Esse 21 de janeiro apenas serviu para cruzar o destino de 51 pessoas (número simbólico). 51 vidas que a partir daquela sexta-feira nunca mais seriam as mesmas. São 51 corações que se juntaram em um, e formaram a turma de Comunicação Social 2011. Não apenas uma turma, e sim uma família.